Crítica de Re-Machined: A Tribute to Deep Purple’s Machine Head (2012)

Não é comum ouvir um tributo como esse. Pra começo de conversa, não estamos falando de uma homenagem a uma banda, mas sim a um disco específico - Machine Head, o sexto e mais conhecido álbum do Deep Purple, lançado originalmente em março de 1972. Em segundo lugar, a coisa toda foi organizada pela respeitada revista inglesa Classic Rock, que lançou o projeto em um fanpack acompanhado de uma longa revista com a história do disco e entrevistas com os músicos envolvidos. Isso deu um ar de credibilidade ao projeto, característica essa que não é muito comum na grande maioria dos discos tributo, que de maneira geral contam com músicos de segundo escalão relendo composições alheias. E esse é o ponto final que torna Re-Machined: A Tribute do Depp Purple’s Machine Head pra lá de interessante: a participação de bandas e artistas consagrados e de peso, como Metallica, Iron Maiden, Chickenfoot, Black Label Society e Joe Bonamassa, entre outros.

O álbum conta com 10 faixas. Estão aqui as sete do LP original, acrescidas de “When a Blind Man Cries”, lado B do single “Never Before”. Duas músicas contam com duas versões diferentes - “Smoke on the Water” e “Highway Star”. As faixas estão na ordem original do disco, com a exceção à “Smoke on the Water”, que abre o tributo na versão de Carlos Santana e do vocalista Jacoby Shaddix, do Papa Roach.

De uma maneira geral, as releituras são muito boas. A força das composições do Deep Purple é fundamental para isso - não há música ruim em Machine Head, e o fato de qualquer pessoa que goste de rock conhecê-las por osmose a décadas faz toda a diferença -, mas algumas versões acabam se sobressaindo. Santana surpreende com uma “Smoke on the Water” muito pesada, com direito a uma segunda guitarra que brinca com a melodia de “In My Time of Dying”, clássico do blues imortalizado pelo Led Zeppelin.  O Chickenfoot se diverta com uma “Highway Star” bem livre e repleta de jams, enquanto o Black Label Society vira “Pictures of Home” de cabeça para baixo, deixando-a mais pesada e lenta. “Highway Star” também brilha nas mãos do trio formado por Glenn Hughes, Steve Vai e Chad Smith, em uma versão cheia de energia.

Joe Bonamassa e Jimmy Barnes fazem jus à “Lazy” uma das melhores músicas da carreira do Purple, trocando solos faiscantes. E o Metallica, cuja competência para tomar para si composições alheias em releituras cheias de personalidade, faz da bela “When a Blind Man Cries” a melhor faixa de Re-Machined, adicionando detalhes e mudando o arranjo original.

O momento mais controverso e discutível do tributo acontece quando o Flaming Lips despe “Smoke on the Water” de quase todos os seus elementos e transforma o maior clássico do Purple em praticamente uma nova composição, deixando-a irreconhecível. Essa postura do grupo de Wayne Coyne irá dividir opiniões: alguns irão amaldiçoar os caras por terem mexido em algo que consideram sagrado, enquanto outros vão curtir a coragem e a irreverência da banda. Fico com a segunda opção.

Entre as decepções, temos o catadão batizado como Kings of Chaos, formado por Joe Elliott (Def Leppard), Steve Stevens, o tecladista Arian Schierbaum e a dupla Duff McKagan e Matt Sorum, ex-Guns N’ Roses e atual Velvet Revolver, fazendo uma versão burocrática e sem graça de “Never Before”, que não acrescenta nada a história da canção. 

Mas o momento mais decepcionante de Re-Machined acontece justamente com uma das versões mais aguardadas e cercadas de expectativa. O Iron Maiden gravou durante as sessões do álbum A Matter of Life and Death (2006) uma até então inédita versão para “Space Truckin’”. Porém, a interpretação se revela preguiçosa, sem sal e arrastada, onde o único destaque são os vocais de Bruce Dickinson em algumas passagens. Um resultado muito abaixo do esperado para uma banda do porte e da importância do Maiden, ainda mais em se tratanto da releitura de uma composição de um grupo que influenciou a sua sonoridade e do qual os músicos já se declararam fãs. Infelizmente, a “Space Truckin’” do Iron Maiden é o banho de água fria do tributo.

Mesmo assim, vale a pena conferir Re-Machined: A Tribute to Deep Purple’s  Machine Head. O saldo é pra lá de positivo, com uma goleada de acertos e poucas escorregadas. E um destes acertos é que o disco será lançado no Brasil pela ST2 durante o mês de outubro, para a alegria dos colecionadores.

Nota: 8

Faixas:
  1. Carlos Santana & Jacoby Shaddix - Smoke on the Water
  2. Chickenfoot - Highway Star
  3. Glenn Hughes & Chad Smith - Maybe I’m Leo
  4. Black Label Society - Pictures of Home
  5. Kings of Chaos - Never Before
  6. The Flaming Lips - Smoke on the Water
  7. Jimmy Barnes & Joe Bonamassa -  Lazy
  8. Iron Maiden - Space Truckin’
  9. Metallica - When a Blind Man Cries
  10. Glenn Hughes, Steve Vai e Chad Smith - Highway Star

Comentários

  1. Achei as releituras muito boas.

    Lazy ficou sensacional, When a Blind Man Cries ficou bem com a cara do Metallica.
    Na minha opinião, a melhor do disco foi Pictures of Home. O Zakk conseguiu dar uma cara totalmente nova e uma qualidade sensacional à música.

    Ps.: Ricardo, só uma observação, o AMOLAD foi lançado em 2006, e não em 2008.

    ResponderExcluir
  2. Bruno, corrigido.

    Obrigado pelo toque e pelo comentário.

    ResponderExcluir
  3. Só para constar Ricardo, a versão do Santana de Smoke on the Water já tinha saído em um CD sensacional, de 2010 que achei em um mercado de rua em Paris esse ano. O trabalho se chama "Guitar Heaven - The Greatest Guitar Classics of All Time.

    ResponderExcluir

Postar um comentário

Você pode, e deve, manifestar a sua opinião nos comentários. O debate com os leitores, a troca de ideias entre quem escreve e lê, é que torna o nosso trabalho gratificante e recompensador. Porém, assim como respeitamos opiniões diferentes, é vital que você respeite os pensamentos diferentes dos seus.